A negra névoa sufoca-me, cega-me a alma num beijo de doce acidez que me corrói a pele, a carne, os ossos, cinzas que voam no ar frio que se agita. Sentado a um canto, fogem do meu peito murmúrios chorosos, convulsões lacrimosas que me escorrem pelo rosto escondido entre as mãos, que tremem cobardemente pela tua ausência. Abraço os joelhos contra o peito, lembrando o teu toque que me incendiava o coração numa voluptuosa maré de aromas que me faziam flutuar. Partiste... Sem fôlego, corri para te agarrar, uma última vez, mas tropecei, caí sobre os sonhos que erradamente deixei para trás para te ter só para mim, entregar-me nos braços de um anjo. Sôfrega chama que se extingue, a luz que dos meus olhos se desvanece perdendo-se na irrisória dor que me magoa e consome, quando recordo o teu rosto, o teu corpo, memórias traiçoeiras, melodias ilusórias das ninfas do mar, que me levam à perdição...ao fim de um ser exausto de caminhar na noite, perdido na angústia que me envolve, que me embala numa canção de fria doçura.
Filipe Pimentel