
Um sopro de ar frio passou-me pelo pescoço. A noite anunciou-se plena, soberana, enegreceu-me o coração. A chama que rugia silenciou-se, a sua luz extinguiu-se, levaste-a de mim, fugiste com o calor que me envolvia a alma, e agora choro qual ser cobarde sem propósito algum. Refugio-me no abrigo que me havias construído, amor, mas contigo desapareceu o telhado que me protegia. E agora chove... Correm pelo meu rosto massacrado, cortado de tanta dor reprimida, lágrimas dos anjos, lágrimas minhas... Um pranto que magoa, que me apunhala e nao acaba jamais... Volta! Volta... Vagueio, sem rumo, por entre as memórias que guardo com a vida, com o meu último suspiro, o derradeiro espasmo de vida que fugirá de mim...um dia... Sou folha que voa no vento, a vontade do rugido das ondas, o murmurar da espuma do mar, o sorriso acutilante dos penhascos, lá em baixo, e depois o abismo, chamam-me. Melodia entorpecedora...conforto de um espírito vazio, insubstância vaga, minha fatídica maldição, minha pena constante.
Filipe Pimentel