domingo, 5 de janeiro de 2014

Dorme, Apenas

 Sonho efémero da alma que persiste, é uma ilusão do coração que se deixa morrer sob um sol que arde numa placidez ensaiada para um destino imutável. Existência nula no absurdo da materialização dos medos todos, infinitos e uns mais quantos, que se prostram aos meus pés cansados, de uma teimosia que não esmorece em palmilhar os trilhos das lajes caídas dos que Já Não São, por ninguém sulcados, onde cego vejo o mesmo e chego além de sítio algum. Pelos gritos amordaçados de um espírito que se estilhaça no chão húmido de prantos noturnos, de uma consciência comatosa que dilacerada se contorce em gargalhadas de resignação mascarada, caio de joelhos no sangue escuro e escondo a cara que espelha o nada que consome o que de mim resiste. Deixo-me asfixiar na dormência déspota da dor continuada que não cessa, e desisto de tentar ser.


Filipe Pimentel

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