Vivo num Portugal escuro sob um sol europeu que ignora quem debaixo do telhado de zinco se abriga. Um Portugal deitado ao Tejo, afogado nas ondas apressadas da tímida traineira que passa. É um Portugal que adormece entre os vapores da uva fermentada e os prantos afónicos que se perdem nas tascas de Alfama. Portugal que vive na lembrança apática de um heroísmo amnésico. Eu, português de um Portugal que sufoca nas páginas de Camões, que se dilui nas lágrimas de Inês, que escorre por entre as pedras imundas da calçada desfeita. Portugal que é levado pela brisa de um suspiro lusitânico, de impotência e saudade do tempo que passou. Portugal de intelectualismos sem voz e de génios sem identidade, de ideologias amorficamente empoeiradas e de moralidades ocas.
Filipe Pimentel
Belas palavras. Eliana
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